Faculdade do Cefi

Temas Atuais

QUANDO A DECEPÇÃO GERA A SENSAÇÃO DE TRAIÇÃO: UM OLHAR DA IBCT

Nas relações amorosas, a vulnerabilidade de nos conectarmos profundamente com o outro envolve uma expectativa de cuidado, validação e segurança. Ao abrirmos espaço para o vínculo, confiamos que a parceria não nos causará dor intencionalmente. Quando essa expectativa é violada, o impacto emocional pode ser vivido como uma verdadeira traição.

A decepção como ruptura de expectativa

Na perspectiva da Terapia Comportamental Integrativa de Casal (IBCT), decepções não são apenas “falhas individuais”, mas eventos que ocorrem dentro de um contexto relacional. A percepção de que nossa parceria não corresponde ao que imaginávamos ou não atende às nossas necessidades pode ativar histórias de aprendizagem anteriores, associadas a abandono, rejeição ou desvalorização. Esses episódios são particularmente dolorosos quando tocam em vulnerabilidades emocionais já existentes, reativando padrões antigos de sofrimento.

A dança da polarização

Na IBCT, descrevemos o processo de escalada dos conflitos como uma “dança relacional”. Diante de uma decepção vivida como traição, a reação inicial costuma ser protetiva: afastamento, silêncio, menos disponibilidade emocional ou, ao contrário, ataques e críticas intensas.

A parceria que se sente ferida pode perder a fé na relação; já a parceria identificada como “ofensora” pode ficar ressentida por sentir que nunca será perdoada ou vista como alguém confiável. Esse ciclo se retroalimenta e mantém ambas polarizadas, dificultando mudanças construtivas.

Aceitação e mudança: dois caminhos complementares

A IBCT propõe duas grandes estratégias:

  • Aceitação: ampliar a compreensão das limitações da parceria, de que o que ela faz não é um “traço malévolo” de sua personalidade, desenvolver empatia pela sua história e aprender a conviver com diferenças inevitáveis sem transformar cada falha em um ataque pessoal.
  • Mudança: buscar novos padrões de interação, favorecendo a comunicação aberta, a expressão de necessidades de forma clara e a construção de soluções práticas para problemas do cotidiano.

A combinação dessas duas estratégias permite sair da rigidez e criar espaço para uma relação mais flexível, com maior conexão emocional e menos ressentimento.

Reflexões para autorresponsabilização

Algumas perguntas podem ajudar no processo de aceitação e mudança:

  • Como reagi ao perceber as limitações da minha parceria?
  • Que histórias internas construí sobre quem ela realmente é?
  • O que posso fazer, no aqui e agora, para interromper a polarização e criar uma interação diferente?

Enfim…

Quando vistas à luz da IBCT, as decepções e a sensação de traição deixam de ser apenas sinais de fracasso e podem ser oportunidades de crescimento relacional. O convite é para reconhecer a dor sem negar sua intensidade, mas também para não permanecer aprisionado nela. Afinal, aceitar limitações e, ao mesmo tempo, investir em mudanças possíveis é o caminho para restaurar confiança, reduzir a polarização e construir uma relação mais possível, comprometida, viva.