Faculdade do Cefi

Temas Atuais

Observando a solidão

Esses dias me senti sozinha, era um daqueles dias em que eu estava tão cansada que a última coisa que eu queria era socializar. A minha bateria social estava esgotada e eu sabia que chamar alguém para conversar ou sair iria apenas me deixar mais desgastada, além de não conseguir estar verdadeiramente presente com a pessoa. Então decidi ficar sozinha. Nisso, percebi que, mesmo sem querer, tenho o impulso de tentar consertar a solidão “Não é bom chamar alguém? Então vamos ler um livro, vamos ver uma série”. Notei que eu ficava constantemente procurando alguma coisa para me distrair daquele sentimento. Me dei conta, com certa tristeza, de que eu tentava ativamente estar aberta para a experiência de me conectar com as outras pessoas, mas não estava aberta para sentir a solidão que me parecia desagradável. Então me propus a olhar para ela.

Não foi a primeira vez que busquei perceber essa sensação com curiosidade, mas volta e meia retorno para as tentativas de sair desse sentimento. Busco adotar uma postura mindfulness na minha vida, de estar com atenção plena e presente em cada experiência. E com essa proposta de notar a minha solidão, fui percebendo como sinto diversos tipos de solidão. Que algumas vezes é uma solidão em que me sinto mais desconectada de mim mesma, em outras vezes é mais por não ter alguém por perto, ou por sentir que ninguém no mundo poderia me entender, ou até mesmo por me sentir sozinha estando com pessoas. E sinto diversos outros tipos de solidão, cada uma sendo uma experiência diferente e com outras questões relacionadas. Algumas mais intensas, outras menos. Algumas com um tom de tristeza, saudade, desesperança ou até mesmo raiva. Às vezes sinto como se fosse uma pressão no peito, ou na garganta, ou totalmente como se eu estivesse dentro da minha própria cabeça. Com o tempo, e com as vezes que a solidão vinha, fui me conhecendo mais, fui podendo entender como é a solidão para mim, ou “as solidões”. Fui entendendo que tenho pensamentos e impulsos diferentes para cada uma delas, e como eu preciso de coisas ou pessoas diferentes em cada uma. Inclusive, como em algumas delas eu não preciso de nada, simplesmente deixar a solidão vir e reconhecê-la. 

Nessa última vez, foi um desses tipos de solidão que eu não precisava de nada além de ficar um pouco com essa sensação. Entender o que nela eu achava desagradável, o que nela me dava tanto medo que eu, muitas vezes, tentava ir fazendo diferentes coisas para que passasse. Perceber suas flutuações ao longo do dia, por vezes mais intensa, outras menos intensa. Fui olhando para ela até que, por vez, notei que ela não estava mais lá. 

A tentativa de olhar com curiosidade sensações que muitas vezes são desagradáveis não é fácil. Tentar apenas perceber, sem necessariamente consertar ou buscar algo para me distrair, não é fácil. Mesmo assim, faz sentido para mim. Faz sentido me conectar com as experiências, sejam elas agradáveis ou desagradáveis, e estar realmente presente na vida. Faz sentido eu olhar para mim mesma, para o que sinto, e entender como eu sinto cada coisa. Faz sentido prestar atenção nas sensações e identificar o que cada uma tenta dizer que eu estou precisando no momento ou sinalizando o que as coisas significam para mim. 

Os sentimentos dizem muito, é como uma linguagem que tenta nos informar coisas, mas nem sempre estamos abertos para escutar. Olhar para eles é olhar para nós mesmos, para nossa relação conosco, com os outros, com o mundo. E viver uma vida mais consciente e presente inclui estar aberto para as experiências, sejam elas quais forem.  

Como é a sua solidão? Onde você sente ela? Que sentimentos e pensamentos vem junto? Qual foi a última vez que você se propôs a verdadeiramente sentir ela? Quando você tentou olhar com curiosidade para a solidão, sem tentar evitar ou consertar? E esse é o meu convite para você hoje, de tentar experimentar a sua solidão.

 

Este texto é de autoria do membro da equipe CEFI Contextus – Mariana Sanseverino Dillenburg