O Elefante Branco
Ter conversas difíceis é um dos maiores desafios das relações e essa semana, depois de travar alguns desses temidos diálogos, comecei a me questionar o porquê. Lembrei de Brené Brown com sua brilhante pesquisa sobre vulnerabilidade. Estar vulnerável na frente de outra pessoa assusta. Estar despido de certas barreiras que impomos de forma invisível para nos protegermos dos outros – e de nós mesmos – traz uma sensação de insegurança que muitas vezes mina esse movimento de dizer o que precisa ser dito.
Ao mesmo tempo em que refleti sobre esse aspecto, lembrei de todas as vezes que eu deixei esse medo me dominar por completo e não toquei no assunto. Permiti que o “elefante” sentasse confortavelmente no sofá da sala, enquanto eu e a outra pessoa em questão nos espremíamos uma em cada canto, tentando acomodar de todo jeito aquele desconforto, ou fingindo simplesmente ignorá-lo.
Contrário ao que se possa pensar, o “elefante” não sumia. Crescia cada vez mais e, proporcionalmente, o espaço para a espontaneidade diminuía, a irritabilidade aumentava (porque afinal de contas um elefante que vai aumentando de tamanho é bem incômodo!). A relação ia enfraquecendo, se equilibrando em uma corda bamba.
Já nas vezes em que enfrentei esse vazio na boca do estômago e decidi reunir toda a coragem para ser imperfeita (como diria Brené), revelando minhas inseguranças, necessidades e sentimentos a outra pessoa, a coisa toda correu diferente. Mil pensamentos caminhavam pela minha mente: desfechos possíveis (em sua maioria péssimos), diversas frases que eu poderia ouvir e rumos que a relação poderia tomar. Será que essa pessoa passaria a me evitar? Romperia qualquer comunicação?
Porém, no momento em que eu proferia as palavras tantas vezes ensaiadas, eu notava um senso de importância nessa ação. Mesmo sendo difícil, eu sabia que eu estava fazendo algo que me aproximava de quem eu queria ser. Um certo senso de orgulho crescia dentro de mim.
O efeito de muitas dessas conversas, para minha grande surpresa, foi o aumento da conexão. Permitindo esse momento de vulnerabilidade, eu abria espaço para que a outra pessoa se colocasse nesse mesmo lugar junto comigo e baixasse a guarda.
Posso dizer que mesmo quando essas conversas não seguiram para um lugar de acolhimento, deram a movimentada que eu precisava naquela relação, ou até mesmo na minha vida. Me aproximaram dos meus valores e trouxeram a consciência do que era realmente importante para mim naquele momento, o que eu valorizava de fato, e para onde estava indo. Mesmo quando o resultado ou a resposta da outra pessoa não era a que eu gostaria.
No mínimo, aumentaram o meu autoconhecimento sobre o que eu realmente queria. Em alguns casos, me afastaram de pessoas que não me aproximavam do caminho que eu gostaria de trilhar. De qualquer forma, conversas difíceis são atos de coragem, e muitas vezes é isso que separa a pessoa que você está sendo, da pessoa que você quer ser.
Este texto é de autoria da estagiária da equipe CEFI Contextus – Marina de Almeida Nery