Faculdade do Cefi

notícias

Luto - como superar a perda?

A morte é uma das maiores experiências de impotência que o ser humano pode viver, e todos nós passaremos por ela. A morte não planeja conosco, não pergunta se pode chegar. Ela simplesmente vem, abrupta ou de mansinho. Dentro de um ciclo de desenvolvimento que tentamos estabelecer como norma (nascer, desenvolver, envelhecer, morrer) ou interrompendo esta ordem que nunca foi garantida.
Não sabemos quando será a nossa vez ou de quem é importante para nós. Familiarizar-se ou apenas entrar em contato com este assunto, pode modificar a nossa forma de viver, de encarar o nosso cotidiano e conectarmo-nos com o que realmente é importante em nossas vidas.

Será que é possível se adaptar a uma perda significativa?

As perdas têm significados distintos para cada pessoa. Este significado é influenciado por inúmeros aspectos como, cultura, crenças, visão social, relação com quem morreu, experiências anteriores, história de vida e tantos outros fatores.
Cada um sofre do seu jeito e com a sua medida. Não há mensuração para a dor de uma perda. Não é possível comparar uma perda com outra. A pior perda é sempre aquela que nos atinge, e só a pessoa enlutada pode definir seu grau de sofrimento. E esta equação aponta para o porquê de algumas perdas serem sentidas como “irreparáveis” para algumas pessoas.

Cada um sabe qual é a sua perda irreparável, pois, será aquela que mais impacto causará na sua vida, maior influência terá na forma como vê o mundo e por vezes, na forma como se posiciona diante dos fatos do cotidiano. Vale ressaltar, que a perda de um animal de estimação, de um ídolo, um acidente de grande impacto ou o fim de um relacionamento amoroso, também podem ser vividas como um luto de grande intensidade, embora muitas vezes sejam perdas banalizadas ou invalidadas socialmente.

John Bowlby, um renomado pesquisador britânico, desenvolveu a chamada ‘Teoria do Apego’. A partir de um grande estudo longitudinal, descreveu como os primeiros contatos afetivos entre o bebê e seu principal cuidador (geralmente a mãe) são determinantes para a qualidade da formação das relações, principalmente no aspecto de confiança e segurança. Segundo Bowlby, a maneira como se estabelece a relação de “Apego” cria uma base que define possíveis formas de posicionamento diante da frustração, do medo, do reconhecimento, das conquistas ... e, também, da morte.

O Apego evolui para o vínculo, o qual pode ser descrito como um laço de amor, confiança, troca de afeto que acontecem sem que haja um motivo específico ou uma necessidade explícita. Assim, quanto mais estável a base de apego, maior será a facilidade para formar e manter vínculos ao longo da vida.
A teoria do Apego nos ajuda a entender que a morte (ou o fim de um relacionamento) nos priva do convívio com a pessoa que se foi, no entanto, não nos impede de continuar amando fortemente esta pessoa e, é este amor que agora não encontra mais ressonância, que faz sofrer e que precisa ser ressignificado para que, quem ficou, possa ter uma vida digna, estável e com saúde.

A resposta a uma perda é chamada de luto e se caracteriza como um tempo, esperado e inevitável, de enfrentamento e adaptação a perda. O luto se inicia com o rompimento do vínculo de amor ou até mesmo antes dele acontecer, quando esta realidade é ainda uma possibilidade remota (doenças longas). É um processo multidimensional que envolve aspectos emocionais, físicos, sociais e cognitivos.
O luto é sucedido por vários sentimentos que se misturam e oscilam de forma pouco organizada podendo desestabilizar a pessoa enlutada. O reconhecimento e a possibilidade de entrar em contato com as emoções, permite encontrar formas de lidar com a dor da perda e com os desafios que surgem neste processo.
Não é possível determinar um tempo para o luto, pois depende muito do tipo do vínculo que foi rompido, da condição psíquica da pessoa enlutada, da rede de apoio que conta e na disposição para investir na vida depois da perda. No entanto, é possível observar que geralmente, o período mais crítico é o primeiro ano. Neste período, há uma série de ajustes e adaptações a uma vida diferente, bem como, os desafios de passar o primeiro aniversário, natal e outras datas significativas sem a pessoa.
Vale salientar que a pessoa enlutada não está doente, está sofrendo. Tristeza não é depressão, é tristeza - e tem sua manifestação no choro, no lamento, na repetição, na dor, no mal-estar, na dúvida, na insônia, na inapetência. No entanto, as pesquisas apontam que em torno de 10 a 20% das pessoas enlutadas apresentam riscos de desenvolver um luto complicado, sendo indicada uma avaliação criteriosa e ás vezes até uma intervenção terapêutica e/ou medicamentosa mais específica. Estes recursos devem ser oferecidos por profissionais especialistas que estejam capacitados e habilitados para fazer um diagnóstico preciso.
Como ajudar e ajudar-se diante de uma situação de perda?
Sendo sincero em seus sentimentos e aceitando as diferentes formas de viver o luto.
Observando as principais dificuldades cotidianas (vida pessoal, trabalho, estudos, etc.).
Não menospreze seus sentimentos, sua dor, a saudade, o medo, a falta de sentido...
Busque ajuda quando a dor parecer insuportável. Esta ajuda pode ser médica, espiritual, psicológica, enfim, dê uma chance para as pessoas acessarem a sua dor.
Esteja atento que nem sempre é possível entender a dor do outro, mas sempre é possível respeitá-la.
Fale sempre que possível sobre o ocorrido. Repetir faz parte da elaboração do luto.
Conte às pessoas que lhe são importantes como você se sente. Os amigos não conseguem adivinhar quando estão ajudando ou atrapalhando.
Quando perceber riscos em seu comportamento, como por exemplo, fazer coisas que não fazia e de forma descuidada, principalmente nos excessos – de velocidade, de bebida, medicamentos, sono, comida, etc., e também nas faltas – inapetência, sono, ânimo, etc. peça ajuda. Estes comportamentos, por vezes inconscientes, indicam que você precisa ser cuidado. Aceite ajuda.
É possível superar e seguir a vida?
O processo de luto poderia ser chamado de processo de vida. É um tempo para restabelecer conexões, rever posição, experimentar o sofrimento e se permitir sair dele. Lembre-se que o luto não é apenas um período de superação, as pessoas não são para serem superadas ou esquecidas. Não há como. O luto pode ser um processo de transformação da tristeza e da dor aguda em sentimentos mais leves e de afeto.
A cicatriz da perda sempre fará parte da sua história, é saudável que ela não sangre o tempo todo. Ela faz parte de você, porém não precisa ser maior do que você impedindo-o/a de seguir em frente.
O processo de luto implica em reposicionar o amor por alguém sem a presença física. É possível sim, retomar sua vida com esta marca. Não será como antes, não há como restabelecer o que foi perdido, porém, isto não significa que o tempo presente, tenha que ser pior do que o passado. Lembre-se - é diferente.

Ana Maria Dall´Agnese e Adriana Zilberman