Aceitação em diferentes níveis
Nessas últimas semanas estive refletindo sobre o conceito de aceitação. Queria aproveitar a oportunidade desse texto para elaborar essa ideia.
Um jeito mais soft de pensar em aceitação é pensar no seu oposto comportamental, a solução impulsiva de problemas: quando nos deparamos com um problema, logo pensamos em uma solução. Note o que ocorre em sua mente quando você vê o problema abaixo:
2+2 =
Simples, né? Temos um problema (2+2) e uma solução (4). Imediatamente já pensamos no que fazer. Talvez deixar a equação ali em cima sem um resultado gere um pouquinho de desconforto. Vamos guardar essa informação.
Deixando um pouco mais complexo: se você vê uma pia cheia de louça suja, o que acontece com sua mente?
Talvez o desconforto seja um tanto maior. De qualquer forma, se você parar para planejar, é possível montar um passo-a-passo de como solucionar esse problema. Talvez precise de mais de uma pessoa, ou mais de um dia, mas é possível resolver isso com um tanto de esforço.
Agora, pense em problemas infinitamente mais complexos:
Uma reforma que você está esperando terminar
Questões legais injustas que você tenha que lidar
Um tratamento de câncer
Problemas históricos de família
Traumas que te aterrorizam até hoje
Doenças crônicas ou intratáveis
A morte de alguém próximo.
Será que dá pra descrever soluções para esses problemas? Às vezes nos envolvemos em resolver os nossos desconfortos mais superficiais:
Se sinto dor, posso me distrair com atividades
Se sinto medo, posso comer para me sentir confortável
Se sinto raiva, posso ruminar todos os fatos que aconteceram até achar algo que prove que estou certo.
Em algum ponto, resolver problemas se torna o próprio problema. Quando há fatores que estão fora do nosso controle, no passado ou na mão de outras pessoas, “não fazer nada” pode ser uma resposta útil.
Claro que “não fazer nada” não é um comportamento. Podemos traduzi-lo de diferentes formas:
Quando sentimos dor, podemos aceitar a dor e iniciar uma atividade física para melhorar a qualidade de vida. Estamos “fazendo nada” para diminuir a dor no momento.
Quando estamos com medo, podemos aceitar o medo e não iniciar um episódio de comer compulsivo, mas nos envolver em atividades úteis para nossos objetivos de vida. Estamos “fazendo nada” para diminuir o medo.
Quando estamos ruminando, podemos interromper a ruminação e aceitar o desconforto de não termos a resposta. Estamos “fazendo nada” para encontrar uma resposta.
A aceitação pode soar como um palavrão, visto que nossa rotina gira em torno de resolver problemas. Não sei se devemos aceitar a louça na pia, doenças tratáveis ou quaisquer questões preveníveis.
A questão é quando estamos tentando resolver coisas fora do nosso controle (ou ainda a nossa reação a essas coisas) e isso está gerando mais problemas. Se brigo com as pessoas pelo fato de não lavarem a louça, posso estar resolvendo esse problema e criando outro maior ainda.
Texto escrito pelo integrante do Núcleo Contextus, Giovani Gatto.