Faculdade do Cefi

Temas Atuais

Uma "aventura" no mundo da maternidade

Ontem foi o dia das mães. Escolhi me aventurar a escrever sobre maternidade e flexibilidade psicológica, termo cunhado pela Terapia de Aceitação e Compromisso. A flexibilidade psicológica é buscada por meio da associação de processos de aceitação e de atenção com os processos de compromisso e mudança de comportamento. São 6 processos centrais que pensei em explorar nesta escrita a partir do tema da maternidade. São eles:

Momento presente/atenção flexível: Tem experiência mais momento presente do que estar observando um bebê? Fico imaginando quando for meu próprio bebê… se ao parar para olhar meus sobrinhos e outras crianças eu sempre fico vidrada e amando cada detalhe. A experiência de atenção flexível ou momento presente propostas pela Terapia de Aceitação e Compromisso traz este olhar contemplativo para o aqui e agora, para aquilo que nosso mundo dos sentidos consegue capturar / observar: o rostinho, os dedinhos gordinhos, o jeito de acordar, o olhar, o cheirinho, a pele quentinha e macia, o calor daquele pequeno corpo… aaaahhhh quanto amor experimentamos no momento presente, não é mesmo?

Eu como contexto: a experiência da maternidade parece ser uma das mais lindas e desafiadoras na vida de uma mulher. Como afeta a forma como ela se percebe? A forma como ela se descreve, os adjetivos que usa para falar de si mesma? Que comportamentos antes nunca experimentados passam a compor seu repertório? Desde sentimentos e emoções ainda não vivenciados até experiências como alimentar um outro ser (em todos os sentidos do alimentar…de leite, de amor, de olhar, de colo, de tudo)…

Aceitação: quantas emoções intensas devem vir com a experiência de maternar. Frio na barriga, medo, amor, plenitude… as emoções gostosas de sentir nós queremos mais é sentir e sentir… notar… e as emoções difíceis de sentir a nossa tendência é tentar escapar, não sentir, evitar, fugir… (nomeada como esquiva experiencial). O processo de aceitação nos convida a fazer espaço para sentir o que quer que esteja ali, sem tentar modificar nada… nos chama a notar como experimentamos cada emoção, e a “ler” o que nos comunica.
Desfusão: o exercício de olhar as experiências internas, sejam elas pensamentos, emoções, sensações com perspectiva, com distância. Isto significa, em outras palavras, que cada mãe possa notar seus pensamentos e julgamentos como pensamentos e julgamentos simplesmente, não como “ditos” ou verdades sobre elas. Pensamentos como “não estou fazendo certo, não sou uma boa mãe” podem ser experimentados, assim como “estou com medo” e a própria sensação de medo. Nosso exercício de poder contemplar estas experiências como experiências é o caminho da desfusão.

Valores: saber o que e quem é valioso para nós. Pensando em maternidade, meu filho é importante para mim. Que se sinta amado, entendido, conectado emocionalmente a mim e às demais coisas e pessoas valiosas para ele. Que se sinta em paz e que encontre felicidade nas pequenas coisas. Que se ame e ame a vida. Que eu me sinta no caminho de quem está caminhando. Que eu possa viver um dia de cada vez.

Ação com compromisso: diz respeito àquelas coisas que fazemos que nos aproximam do que é valioso para nós. Quais coisas eu faço que me aproximam de estar mais conectada com meu filho? O que eu (me) vejo fazendo que me leva a esta sensação de estar caminhando no caminho? Dando um passo por vez?

Eu, aqui e agora, experimento este texto como me aventurar, como falar de algo do plano do desejo, da imaginação, das experiências já vividas como tia e das vividas como mãe em construção. Por que não? Como a mãe que eu quero ser quando tiver um “filhote” neste mundão dos sentidos.

 

Por Martha Ludwig, psicóloga e doutora em Psicologia.