Setembro Amarelo: Vamos escutar?
“O mundo seria melhor se eu não estivesse nele”
“Eu só quero que isso passe”
“Não tem mais nada para mim aqui”
“Isso nunca vai passar”
“Os outros vão ficar melhor sem mim”
“Eu penso em me matar”
Você já escutou alguém falando isso? Como foi para você escutar? Esses e vários outros relatos podem ser verbalizados por pessoas que estão sofrendo muito e, inclusive, que podem estar pensando em se matar. Hoje é o dia mundial de prevenção do Suicídio que é o ato de tirar a sua própria vida. Por isso, nós do Vida - Núcleo de Atenção ao Suicídio junto com o restante do CEFI, gostaríamos de aproveitar essa data para conscientizar um pouco sobre esse tema.
Como você reage quando escuta alguém falando isso? Você faz comentários do tipo “que horror, nem fala uma coisa dessas”, “ah, mas olha tudo de bom que você tem”, “você precisa sair disso”, “é só se esforçar”, “pede ajuda pra Deus, ele vai te ajudar”? Talvez não sejam exatamente esses comentários, mas já se notou tentando tirar a pessoa dali, fazendo com que ela se sinta melhor? É compreensível que você tenha o impulso de fazer isso, quando vemos alguém em grande sofrimento, queremos tirar a pessoa dali, resolver a situação, fazê-la se sentir melhor e temos medo que a pessoa faça algo contra sua própria vida.
Mas esse não é o melhor caminho. Por que? Porque isso gera um distanciamento, a pessoa se sente isolada, não compreendida, sozinha. Os outros não a compreendem, não conseguem compreender sua experiência e seu sofrimento. E isso não diminui o risco da pessoa, nem a faz se sentir melhor.
Pense na seguinte situação: uma pessoa termina com o seu parceiro e sente a necessidade de compartilhar como está se sentindo com pessoas que ela confia. Então ela expressa o quanto está triste, que sente saudades dele, que tem o receio de nunca mais se apaixonar pela sua vida. Agora imagina que quando a pessoa começa a se expressar, o ouvinte a interrompe com comentários dos tipo que citei anteriormente. Como será que essa pessoa se sentiria? No mínimo ela se sentiria sozinha com sua dor, sem poder compartilhar, se sentindo inadequada por se sentir dessa forma.
Uma pessoa com ideação suicida é uma pessoa que está com um sofrimento e esse sofrimento precisa ser acolhido. Sim, é importante buscar ajuda profissional que possa auxiliar essa pessoa a diminuir esse sofrimento com estratégias diferentes. Mas o primeiro passo é escutá-la, se permitir olhar e sentir seu sofrimento, aceitá-la. Lembre-se, você não está aprovando o comportamento suicida, só está acolhendo a emoção, o sofrimento que traz esse impulso. É diferente. Essa pessoa pode se sentir mais acolhida e isso diminui sua sensação de isolamento (o que é um fator protetivo para o suicídio). Depois disso, você pode ajudá-la a buscar ajuda profissional.
Vamos dar esse primeiro passo? Se você está se sentindo assim ou conhece alguém que esteja, nosso núcleo está de portas abertas para ajudá-los. Esperamos que esse texto tenha sido útil!
Artigo escrito por Mariana Dillenburg, psicóloga e integrante do Núcleo Vida do CEFI / FACEFI