Reflexão com uma sacola de bananas

Anteontem aconteceu algo interessante, era domingo, eu estava estudando para a disciplina que vou começar a ministrar essa semana. Meu estudo estava rendendo, somado a uma ansiedade pelo início das aulas que me fazia estar mergulhada nos livros naquele momento. Eu gosto muito de dar aula, mas também é uma atividade que eu me cobro muito, pois quero entregar um bom trabalho. Nesse dia, eu estava sentada estudando na mesa da cozinha, ao meu lado, tinha uma sacola de bananas que eu havia comprado na feira para a minha avó. Meu marido havia amado as bananas que eu comprei na feira na semana anterior e as achou muito doces, então, nesse fim de semana, eu havia comprado um cacho para a minha avó pois queria compartilhar essa experiência com ela. Mas o fim de semana foi corrido e eu não havia conseguido visitá-la antes. Agora estava eu, num domingo início da noite, estudando com o saco das bananas ao meu lado. Eu olhei para elas, pensei “estou rendendo nos estudos, se eu seguir aqui, vou conseguir ler mais alguns capítulos ainda hoje” e meu primeiro impulso foi seguir ali estudando e desistir da visita. Essa decisão me gerou um breve alívio, mas a seguir senti uma inquietação. Se eu não visse a minha vó naquele dia, talvez teria que esperar mais uma semana para vê-la, pois com a rotina super corrida dessa semana, ficaria difícil passar lá. Será que valia a pena deixar de ter esse momento com a minha vó para ler mais algumas páginas?
Essa situação me deixou refletindo: eu tinha muitas coisas de trabalho para fazer. Ao mesmo tempo, também me dei conta: a maioria das vezes eu tenho muitas coisas de trabalho para fazer! Essa realidade é mais a regra do que a exceção, sempre tem textos para escrever, livros para ler, projetos para organizar, atendimentos, reuniões, supervisões, e por aí vai. Eu gosto dessas atividades e sou grata por ter trabalho que me fornece satisfação comigo mesma e recursos para ter uma vida confortável. E pensando no que o trabalho me proporciona, faz sentido que eu invista nele e queira fazê-lo bem, para que ele siga me proporcionando esses benefícios. Entretanto, não quero que a minha vida seja sobre o meu trabalho. Ele é parte importante, mas não é tudo e eu NÃO QUERO que ele seja tudo.
Por mais que eu tenha clareza disso, é muito fácil cair no modo automático de que preciso produzir a todos os momentos e estar sempre “adiantando” um trabalho que nunca acaba. Ir contra esse impulso elicia pensamentos autocríticos, como “não vai dar tempo, você deveria estar trabalhando” e uma sensação de medo e ansiedade. Porém, agir para ficar aliviando o medo e a ansiedade a curto prazo não me leva para uma vida valiosa. Se eu faço um exercício de me projetar no futuro e pensar sobre o que eu gostaria que tivesse sido a minha vida, a ideia de ter equilibrado minha profissão com passar tempo com pessoas que eu amo, me gera muito mais felicidade do que a ideia de eu sozinha em casa estudando todos os fins de semana para “ser uma profissional melhor”. Então, após essa reflexão, terminei de ler o capítulo que eu estava lendo, dividi o cacho de banana em dois e fui visitar a minha mãe e a minha vó. Nesse dia eu não trabalhei mais. Estou escrevendo esse texto na segunda-feira, um dia após esse evento, sigo tendo muitas coisas para fazer, mas não me arrependo da minha escolha, me sinto em paz comigo mesma e alinhada com meus valores. Vou fazer o meu melhor essa semana nas minhas tarefas e vou aceitar radicalmente as minhas limitações nesse processo. Esse texto não é apenas o cumprimento de uma tarefa, é um lembrete do que é valioso na minha vida. Eu tomo essa consciência e renovo meus votos com a vida que eu quero ter e convido você a fazer o mesmo, seja quais forem esses valores!