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OUTUBRO ROSA E NOVEMBRO AZUL: AUTOCUIDADO EM TEMPOS DE COVID-19

OUTUBRO ROSA E NOVEMBRO AZUL: AUTOCUIDADO EM TEMPOS DE COVID-19

 

A notícia assustadora de um vírus pouco conhecido com alto poder de contágio nos colocou diante de uma situação completamente desconhecida. Sem ter muito tempo para nos preparar, entramos em uma situação de isolamento social, em quarentena, durante uma pandemia. Essa situação inusitada forçou que nossa vida sofresse inúmeras adaptações. A sensação inicial é que nossa vida parou, tudo ficou suspenso e estranho. Essa parada na verdade foi apenas um hiato, uma pausa para nos reorganizarmos para seguirmos fazendo as coisas. Foi necessário criar nosso novo normal.

Quando recebemos o diagnóstico de câncer, de certa maneira, acontece a mesma coisa. Nossa vida entra nesse limbo, nessa pausa emocional onde tudo é confuso, enquanto tentamos assimilar e entender a dimensão da notícia e das mudanças que virão. Porém, essa pausa é curta. Junto com o diagnóstico, vem a notícia do início do tratamento. E enquanto estamos ocupados tentando entender o que de fato estamos vivenciando e iniciando o tratamento, a vida segue exigindo que possamos dar conta de todas as outras coisas que fazem parte da nossa vida e nossas rotinas.

Assim como quando surgiu um novo vírus que causou - e ainda causa - tantos impactos, quando uma pessoa recebe um diagnóstico de câncer, processos simultâneos ocorrem. Começamos a nos perguntar como viver tudo isso enquanto temos que dar conta de tantas outras coisas…

Na atual situação, sofremos adaptações diante da pandemia e do isolamentos para o nosso  “novo normal”. Devemos olhar com generosidade para quem, recebe o diagnóstico de câncer no meio de tudo isso, e precisa de uma nova adaptação para viver no meio dessas adaptações ao “novo normal” o processo de tratamento oncológico durante esse período tão incomum.

Entender e respeitar o momento de choque inicial diante da descoberta, quando se recebe um diagnóstico para a vida - pois mesmo após o processo de tratamento, exige revisões periódicas e tem repercussões psicológicas permanentes, uma vez que muda a forma de encararmos a vida e suas adversidades. Esse choque inicial precisa de tempo para ser processado, mas tempo é justamente o que o paciente não tem. É necessário iniciar o acompanhamento imediatamente para poder otimizar o tratamento. 

Além da falta de tempo para assimilar e de todos os atravessamentos emocionais que estão presentes, quem recebe o diagnóstico precisa lidar com uma sensação de impotência. Essa impotência aparece por vezes como questionamentos constantes - o que aconteceu? Como isso iniciou? Quando? O que poderia ser feito para evitar? 

Quando lidamos com uma doença viral como o coronavírus, recebemos orientações claras quanto aos cuidados necessários para evitar o adoecimento: uso de álcool gel, cuidados de higiene, uso de máscara. Mas enquanto o Covid-19 está fora, o câncer está dentro, e esse não saber como evitar ou como começou aumenta essa sensação de impotência diante da doença.

Outra mudança importante de ser pontuada durante o isolamento social e o tratamento oncológico é a necessidade de apoio e cuidado. Nos tempos de coronavírus, um cuida do outro evitando o contato social, respeitando as orientações e se mantendo distante fisicamente. O que não muda a necessidade de afeto e cuidado. Esse cuidado apenas é adaptado.

O ser humano necessita do outro. E num momento de maior vulnerabilidade emocional como o tratamento oncológico, essa rede de apoio é fundamental. Mas diante dessas novas orientações de segurança, principalmente com pacientes com a saúde debilitada, como a rede pode ser presente? O uso de recursos eletrônicos, vídeo chamada, ligações, entrega de produtos de necessidades urgentes e alimentação de qualidade, são formas de estar presente e apoiando sem oferecer risco para os envolvidos.

Os tempos atuais exigem criatividade para se fazer presente, apoiando processos constantes de adaptação. O que é primordial neste período é não negligenciar cuidados com saúde. Não parar tratamentos, nem adiar exames, prestar atenção em sinais e em sintomas ou alterações importantes. 

Nesse sentido, durante a pandemia os cuidados em saúde devem ser além do uso de álcool gel, máscara e afastamento. Cuidar da saúde como um todo é fundamental para sairmos dessa situação prontos para o novo mundo que nos espera.


Texto escrito pelas psicólogas Gabriela Gehlen CRP 07/29841, Ana Dall’Agnese CRP 07/12528 e Mariana Zanatta CRP 07/26370 da equipe CEFI CORA.