Janeiro Branco: Mês da Saúde Mental
O ano que passou nos mostrou mais do que nunca que saúde mental é um assunto complicado. As limitações de circulação, alterações de trabalho, crise econômica, o medo de uma doença desconhecida: foram muitas as pressões contextuais e os sentimentos mobilizados. Essa experiência serviu apenas para explicitar emoções que permeiam a nossa sociedade há muito tempo.
No consultório, um paciente me disse que sentia culpa em perceber a vida triste e sem sentido quando havia pessoas em situações muito piores que a dele (se referia às dificuldades socioeconômicas e à desigualdade), concordei. Existem pessoas em situações muito difíceis, porém afirmei que essa informação não retirava a complexidade do sofrimento dele. Muitas condições sociais ou doenças clínicas matam ou geram sofrimento no mundo, mas isso não nos exime da responsabilidade e do impacto causado pelo sofrimento mental que também mata e prejudica - Talvez de maneira tão sorrateira que seja por isso que é negligenciado. Quando falamos do sofrimento de relações abusivas, mentais, físicas, sexuais, de transtornos alimentares severos em que a pessoa adoece o próprio corpo e coloca sua vida em risco, a depressão e o suicídio, a hiper exposição, falamos de temas frequentes no consultório que também colocam diariamente a vida de pessoas ou grupos em risco. Assim como, quando falamos em saúde mental também nos referimos a práticas que auxiliam a melhorar a vida de indivíduos e coletivos pela reflexão sobre minorias e grupos historicamente oprimidos, a jornada de desenvolvimento pessoal de cada um e a construção de um novo mundo. Assim, talvez tenhamos mais recursos para tratar das outras questões também, como as referidas pelo meu paciente em seu argumento. Talvez ajudá-lo possa ser uma forma de entregar ao mundo uma pessoa que será mais sensível ao sofrimento do outro, e talvez mais comprometida com esse mundo melhor.
Texto escrito pela Psicóloga Mariane Radke (CRP 07/25125) supervisora da equipe de comunicação CEFI.