Dia de Finados: entre lutos e rituais
De origem cristã e com registros datados desde a Idade Média, o dia de Finados hoje é celebrado em diferentes países ocidentais. A definição de uma data (reconhecida mundialmente como 02/11) veio para dar significado a rituais destinados aos mortos, que já ocorrem desde o homem Neandertal.
Deste modo, o Dia de Finados é marcado pelo reconhecimento de rituais direcionados ao luto e à lembrança de uma finitude da vida – "lembre-se da morte", do latim "Memento Mori". É um dia de homenagens e reflexões em que as pessoas costumam ir ao cemitério ou em outros locais que lembrem seus entes queridos já falecidos. Um reencontro circunscrito por sentimentos ambivalentes como saudades, tristeza e amor.
A importância dos ritos para marcar experiências está na transmissão cultural, de valores e de atitudes, bem como no processo de aprendizagem e na definição de transições do ciclo vital. Isto é, eles possuem uma função de, mediante atos simbólicos, condensar diferentes elementos constitutivos da vida e da morte em um marco representativo. No caso do luto, os rituais podem ser facilitadores do processo.
Deve-se reconhecer que um ritual efetivo precisa ser elaborado a partir daquilo que faz sentido para uma pessoa ou para um povo, com a intenção de representar uma experiência singular. Assim, podemos dizer que o Dia de Finados é celebrado de diferentes formas entre as famílias e culturas, tendo, inclusive, variações em suas origens. No México, por exemplo, o Día de los Muertos é marcado por influências indígenas e compõe um grande festival que comemora a visita dos mortos a parentes e amigos ainda vivos.
Neste dia, respeite suas crenças e sentimentos. Pense este ritual como uma expressão de seus valores e se permita aprender com a vida e a morte. Relembre, se emocione e se conecte. Se desejar, fique próximo daqueles que ama, ou se permita um tempo para refletir. Caso sinta ser necessário, procure atendimento clínico: o CORA é o núcleo do CEFI especializado para prestar serviços com enfoque no luto e estamos preparados para atendê-lo.
O CEFI gostaria de expressar todo o respeito pelos entes queridos que já faleceram e por aqueles que sentem sua perda, prestando uma homenagem com as palavras de Rubem Alves:
"Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que representam as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas – são animais mansos –, seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse, a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem. Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: 'Ela não sai da sua depressão...'. Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava. Um dia, passou por ali um pescador com o seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para a sua esposa". Ostra Feliz não Faz Pérolas – Rubem Alves
Texto escrito por Gustavo Affonso Gomes e Mariana Damin Zanatta
Psicólogos da equipe CEFI/CORA