As crianças no segundo ano de pandemia
Por Juliana Potter - psicóloga e professora colaboradora do CEFI
É evidente que todos estamos sofrendo de alguma maneira pelos impactos da pandemia. Porém, alguns estudos já apontam que determinadas populações parecem sofrer ainda mais. Dentre as crianças, os pré-adolescentes são aqueles que demonstram maiores dificuldades emocionais e sociais. Isso acontece porque estão em uma fase de intensa socialização mas, diferente dos mais velhos, ainda estão explorando a comunicação através das tecnologias e, gradualmente, fortalecendo suas relações com os pares da idade.
Nesse momento, na prática clínica com crianças, é frequente escutar relatos sobre dificuldades de sono, preocupações excessivas consigo e com os demais, medos, alterações de apetite, desatenção e problemas para acompanhar o conteúdo escolar. É importante que os adultos busquem compreender e adequar suas expectativas de maneira realista, contextualizando as reações da criança e observando três pontos fundamentais: frequência, intensidade e duração dos sintomas. Muitas vezes, os adultos cobram coisas das crianças que, nem eles mesmos são capazes de fazer nesse momento, o exemplo mais ilustrativo desse momento é esperar que o filho fique atento e sentado durante quatro ou mais horas diante da tela de um dispositivo eletrônico para as aulas em formato online.
Todos nós estamos sentindo a perda de algo ou alguém. Podemos dizer que somos todos enlutados pela nossa vida como era antes da pandemia e com as crianças não é diferente. Como acontece em todo o processo de luto (independente de se referir a perda de uma pessoa, da rotina, da percepção de segurança, da convivência com as pessoas e outras tantas perdas pelas quais estamos todos passando), em alguns momentos estamos voltados para o que perdemos e, em outros para a restauração. Portanto, não podemos esperar das crianças uma expressão linear.
Os adultos podem contribuir positivamente, auxiliando a criança a nomear e tentar entender o que acontece com ela, fazendo perguntas gentis e com linguagem adequada ao universo infantil. Também é muito importante validar e acolher todos os sentimentos e pensamentos, não é errado sentir raiva ou medo, por exemplo. Sempre deixando claro que a criança não está sozinha, que os adultos estão cuidando dela e que, juntos, encontraremos formas de lidar com as adversidades impostas pela pandemia.
Porém, como cada família enfrenta de maneira distinta as adversidades, também pode ser interessante que os pais busquem um profissional para orientá-los a encontrar a melhor maneira de ajudar seu filho.