Um dia como qualquer outro, mas...
E começou assim… Um dia como qualquer outro, era final do veraneio, a família estava terminando de tomar café da manhã e arrumar as malas para voltar para Porto Alegre. O grupo estava em dois carros separados, os pais voltaram em um dos carros e as duas filhas, uma acompanhada de seu namorado e outra de sua amiga, em outro. O carro com as filhas e os acompanhantes estava mais a frente e, em um certo momento da viagem, eles se deram conta de que não estavam mais avistando o carro dos pais, que vinha logo atrás. Uma das irmãs tentou contatar a mãe e, quando esta atendeu, avisou que eles haviam sofrido um acidente, mas estavam bem, e pediu que voltassem com o carro até o local do acidente. O grupo imediatamente fez o retorno para tentar localizar os pais. A filha mais nova tentou fazer contato novamente para saber com maior precisão o local do acidente, mas dessa vez, uma pessoa desconhecida atendeu. As meninas começaram a se sentir mais ansiosas, o medo foi crescendo. Ao avistarem o local… pronto, a crise se instaurou. O carro dos pais estava capotado e 80% do carro estava amassado, as bagagens espalhadas pela estrada, um grupo de pessoas em volta e o pior… não avistavam seus pais!
Esse com certeza foi um dos piores dias da minha vida, realmente achei que perderia meus pais nesse dia. Eles foram levados para emergência mais próxima e, ainda bem, se recuperaram. Lembrei desse evento hoje quando experimentei uma sensação parecida com o medo que senti naquele dia. Esse medo que experimentamos quando receamos que algo realmente grave possa ter ocorrido. E a pior parte: não está no nosso controle. Não temos como mudar a situação e ainda por cima temos que lidar com ela e resolvê-la TAL COMO ela se apresenta. Na hora, é normal brigarmos com a realidade: “E se outra pessoa estivesse dirigindo o carro”, “E se eu não tivesse saído no dia anterior e pedido para o meu pai me buscar tarde da noite”, e se, e se, e se. É natural fazermos isso, aquela realidade é muito dura e gostaríamos que não tivesse acontecido. Mas aconteceu!
A Terapia Comportamental Dialética (DBT) pode nos ajudar nesse momento com as habilidades de tolerância ao mal-estar. Essas habilidades servem para situações de crise, em que estamos com uma ativação emocional muito intensa a ponto de não conseguirmos raciocinar. Nesse momento, o que precisamos é simplesmente sobreviver à crise sem piorar as coisas. Para isso, podemos usar habilidades para nos distrairmos, se auto acalmar com os cinco sentidos, segurar gelo com as mãos, aceitar radicalmente a realidade, entre outras.
Mas e se precisamos resolver problemas nesse momento? Por isso é importante entender algo: precisamos fazer uma coisa de cada vez, não tem como resolver problemas aí! Primeiro, você precisar baixar a sua intensidade emocional para depois poder resolver a situação. Senão você só vai acabar se atrapalhando mais ainda e piorando a crise. Hoje, quando recebi uma notícia alarmante, a primeira coisa que eu fiz foi fazer uma respiração compassada (inspirar o ar contando até 3 e depois expirar contando até 5). Normalmente, o nosso coração acelera mais durante a inspiração e desacelera durante a expiração. Portanto, expirar mais devagar auxilia a ativar nosso sistema parassimpático (modo de repouso), diminuindo a ativação emocional. Depois de fazer alguns ciclos de respirações compassadas, conseguir fazer o que precisava para resolver a situação.
É muito difícil passar por crises e por situações trágicas. É normal ter uma reação quando isso acontece. Mas ainda assim, essa é a nossa realidade nesse momento e precisamos lidar com isso. No manual de habilidades de DBT, desenvolvido pela Marsha Linehan (2018), você pode encontrar a descrição desta e de várias outras habilidades de tolerância ao mal-estar. Se você tem vontade de treinar mais a fundo essas habilidades para incorporá-las em sua vida, aqui no CEFI oferecemos um curso de treinamento dessas habilidades em grupo (o link com maiores informações sobre como ingressar no grupo está no final do texto). Gostaria de finalizar esse texto com uma frase que eu gosto muito do manual de habilidades: Lembre que a vida pode valer a pena ser vivida mesmo quando há dor. Espero que tenham gostado da leitura e não se esqueça: Keep Calm and Use Your DBT Skills!
Referência: Linehan, M. M. (2018). Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o paciente. Artmed Editora.
Artingo escrito pela psicóloga e integrante do Núcleo Contextus, Mariana Sanseverino Dillenburg.