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“Ter uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados todos os recursos terapêuticos disponíveis”

Sobre os Direitos e Deveres do Paciente:

 

“Ter uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados todos os recursos terapêuticos disponíveis”

 

O que você pensa quando lê essa frase? Que ideias ou lembranças surgem na sua mente? Quando eu leio essa frase, me lembro de uma situação que presenciei quando fiz estágio no setor da oncologia pediátrica de um hospital. Na época, um dos pacientes internados, que deveria ter cerca de 8 anos, leu os direitos e deveres do paciente, que ficam pendurados em todos os quartos do hospital. Quando ele chegou nesse item que diz que todo paciente tem direito a ter uma morte digna, ele ficou muito mobilizado e chorou muito, ao ponto que sua mãe teve que tapar o quadro dos direitos e deveres com uma toalha para que ele parasse de chorar. O tempo passou e, infelizmente, o prognóstico desse paciente foi piorando. Chegou um momento em que ele não estava mais respondendo ao tratamento, então, seus familiares foram chamados para se despedirem. No seu último dia de vida, já bem debilitado em função da doença, o paciente olhou para médica e falou “é, acho que toda criança merece ter um morte digna mesmo”. No dia seguinte ele morreu.

Todo ser humano tem direito a ter uma morte digna. Para muitas pessoas pode soar estranho escutar isso, podem surgir muitos questionamentos do tipo: o que configura uma morte digna? Em que situações isso se aplica? Como fazer isso? Esse é um assunto polêmico, porém importante de ser falado. E a resposta para essas perguntas pode não ser tão simples. Entretanto, no dia internacional dos direitos humanos, que é comemorado no dia 10 de dezembro, eu convido você a fazer essa reflexão. Não precisamos chegar numa resposta definitiva, apenas dar espaço para isso.

Falar da morte costuma ser muito aversivo, pelo menos na nossa cultura, ao mesmo tempo essa é uma das grandes certezas da vida: todos nós vamos morrer! Uns mais cedo, outros mais tarde, mas é uma realidade da qual ninguém escapa. O que pode tornar mais digno esse momento para a pessoa? Como seus desejos podem ser respeitados? Às vezes pode ser algo simples como abrir espaço de conversa sobre isso. Muitas vezes, a pessoa que está passando pelo processo de adoecimento grave é a única excluída do assunto. Toda sua família está falando sobre isso, mas ninguém conversa com ela.

É incrível o quanto aprendemos com as crianças; uma outra história que conheci na época que estagiei na oncologia pediátrica era de uma menina, que já estava no estágio paliativo da doença e falou: “vocês tem que se despedir de uma pessoa, imagina eu que tenho que me despedir de todo mundo”. Portanto, a mensagem que eu gostaria de passar com esse texto é: não vamos perder de vista os direitos de um ser humano porque certos assuntos são mais difíceis e doloridos de serem abordados! A morte faz parte da vida, por isso falar sobre morte também é falar sobre vida. Vamos abrir espaço para esse tema?

 

Texto escrito pela psicóloga e integrante do Núcleo Vida, Mariana Sanseverino Dillenburg.