Seu filho/filha deveria ser exatamente como você gostaria que fosse?
De uma maneira geral, o amor pelos filhos é um dos mais intensos… Porém, muitas vezes não percebemos, mas criamos expectativas altíssimas… na ideia de desafiar e tirar o melhor de nossos pequenos, podemos colocar tanta pressão sobre eles e tornar uma relação com condições: “Só vou te amar se… for como eu quero, ou não for desta forma, ou se fizer tal coisa, ou…”
É bom lembrar que as crianças não são uma extensão da mãe ou do pai. Vamos entender que cada criança é um mundo, é um indivíduo, e quanto mais experiências apresentarmos, mais cedo encontrarão o seu próprio caminho, mesmo que esse caminho não nos pareça tão adequado. Cada criança é um mundo, ensinemos nossos filhos a desfrutar e desenvolver sua própria individualidade. Nem todos as crianças vão adorar esportes ou querer dançar ou cantar. Não há gênero ou idade para os gostos e habilidades das crianças.
O convite é que os pais aceitem o filho que tem e não aquele que imaginaram que poderia ser. Às vezes não percebemos o quanto as expectativas podem prejudicar a autoestima e os verdadeiros interesses de nossos filhos. E, para lidar com isso, devemos medir nossas palavras. O que dizemos fica para sempre na mente das crianças.
Outro aspecto importante é não comparar seu filho com outra criança. Há pais que erroneamente dão o exemplo de outros pequenos ou até de irmãos para ensinar ao outro que “é assim que se faz” ou que existe uma “maneira correta” de fazer as coisas. Porém, com isso estamos limitando o real potencial de cada criança e incentivando a inveja e competição.
Educar não é fácil, há momentos em que o desespero nos leva a dizer frases como “por que você é tão chorão”, “você é muito sensível” ou ainda apontamos o que, para os pais, pode ser um defeito, como “você fala demais”, “por que você não sorri” e tudo isso pode criar inseguranças, mas é somente uma característica da criança.
Embora possam parecer frases simples, as palavras dos pais são muito poderosas e podem até ferir, especialmente para uma criança cuja a autoestima e o autoconceito dependem inteiramente da mãe e do pai, de quem os cria. Se os pais não têm habilidades suficientes para realizar uma educação respeitosa e amorosa de seus filhos, não há problema, porque é um aprendizado. Principalmente se os pais tiveram dificuldades na relação com seus pais, na sua própria história de vida. Pode-se pensar no pai/mãe que deseja ser e ir nesta direção. Pode, ainda, pedir apoio, há diversos tipos de treinamentos para pais, feito por profissionais especializados que podem ajudar numa melhor relação de apego saudável com os filhos.
Quanto às expectativas dos pais, podemos falar de modo geral, mas também podemos pensar quando há alguma característica mais marcante, por exemplo, alguma deficiência. Emily Perl Knisley (1987) teve uma filha com Síndrome de Down e utilizou uma metáfora para explicar às demais pessoas como foi sua experiência:
“Eu sempre quis viver na Itália. Estudava italiano na escola para poder viver lá. Sonhava tomar um expresso em um café italiano, ver o Vaticano e ir a uma ópera italiana. Queria conhecer Roma, Florença, Toscana e os Alpes italianos. Foi muito difícil não gastar dinheiro em outras coisas durante esses anos que passei economizando para fazer a viagem. Mas, finalmente, um dia tive dinheiro suficiente para deixar meu trabalho. Vendi minhas coisas e peguei um avião para a Itália.
Mas, de alguma maneira, não sei como aconteceu exatamente, quando desci do avião não estava na Itália… Estava na Holanda. Holanda! Era impossível! Como isso pôde acontecer comigo? Era incrível! Tinha me preparado para a vida na Itália. Quando comecei a conhecer a Holanda, descobri que tinha muitas coisas belas. A Holanda tem tulipas, moinhos de vento e paisagens verdes sem fim. Amsterdam tem ruas maravilhosas. A Holanda tem muitas coisas lindas. Mas não é a Itália.
Nunca vou conhecer a Itália. Nunca vou visitar o Vaticano. Jamais verei uma ópera italiana, nem esquiarei nos Alpes. Mas tenho tulipas frescas em casa e caminho por canais todos os dias. Agora vivo na Holanda.”
Por fim, além de pensar que nossos filhos não são exatamente como gostaríamos que fossem (e está tudo bem), é bom lembrar que nós como pais também não somos exatamente o que eles gostariam que fôssemos… (e também está tudo bem), assim é a vida. O importante é estarmos atentos às nossas expectativas, sentimentos, à realidade e fazermos o que realmente é importante nesta experiência de criar/educar cada criança, isto é transformador.
Texto Escrito pela integrante do núcleo CEFI Contextus – Mara Lins