Relacionamentos em tempos de pandemia e a violência contra mulher
Relacionamentos em tempos de pandemia e a violência contra mulher
Se houve um aspecto que se intensificou e exigiu maiores cuidados durante a pandemia foi certamente a demanda dos relacionamentos. O convívio maior dentro de casa, as adaptações do trabalho, as exigências das tarefas domésticas mais presente (como os copos que se multiplicaram nessa quarentena), os desafios com o cuidado dos filhos (solicitando muuuita criatividade) tornou tão necessário o desenvolvimento de novas habilidades para poder lidar com tudo isso. Não foi raro perceber em muitos estados que o aumento desse convívio tenha intensificado também uma série de problemáticas sociais, dando a oportunidade de olharmos para fenômenos antes mesmo despercebidos. Nesse sentido, o alargamento dos casos de violência contra mulher foi significativo também aqui no Rio Grande do Sul, revelando um aumento de 66% dos casos de feminicídios nesse período em comparação com o ano passado. Em um cenário onde os dados já são subnotificados, ver esse aumento é bastante preocupante. São muitos os fatores que nesse momento vulnerabilizam ainda mais os relacionamentos, sejam o aumento das tensões, do medo, da crise, do estresse – mesmo que isso jamais deva ser entendido como justificativa para a agressão. No entanto, notar o aumento dos casos em um momento de maior isolamento nos faz questionar para qual caminho estamos andando e de que forma seguimos atuando nos nossos relacionamentos. Sabemos que há uma série de fatores que influenciam na escolha de estratégias desadaptativas – e aqui entra a violência – para lidar com os conflitos, como o temperamento, a aprendizagem com figuras parentais, visões individuais de mundo e crenças culturais sobre o que é um relacionamento e quais são os papeis de gênero implicados. A complexidade do fenômeno é alta, mas uma coisa que é certa: não devemos ignorá-lo. A violência ganhou espaço de uma força banal e invisível nos relacionamentos, provocando uma série de consequências graves na vida de quem a sofre. Atos de controle, submissão e manipulação são distorcidos como provas de amor e constantemente reforçados. Portanto, seja qual for o seu papel na luta pela quebra desse ciclo, esteja atento a sua manifestação e não naturalize atos de violência, dentro ou fora de uma pandemia. Tamires Dartora - CRP 07/23893