PROPOSTA DE AJUDA DA TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO PARA SITUAÇÕES DE EXTREMO ESTRESSE
Diante da triste calamidade pública ocorrida no Estado do Rio Grande do Sul, há necessidade de muita ajuda humanitária, estrutural, física e emocional. Sendo assim, os terapeutas do Núcleo Contextus e alunos da pós-graduação em terapias comportamentais contextuais da Faculdade de Psicologia do CEFI-FACEFI, propõe um auxílio psicológico para as pessoas que vivenciaram esta tragédia.
Segundo a World Health Organization (2011), diante de uma catástrofe torna-se prioritária a criação de um plano que permita uma ação coordenada, integrada, eficaz e eficiente para auxiliar nos primeiros socorros psicológicos. É essencial a criação de um trabalho voltado à redução do risco potencial pois, uma situação complexa, como é uma catástrofe, exige respostas que excedem geralmente os recursos materiais e humanos disponíveis no momento. Sendo assim, diante de situações emergenciais, é importante avaliar o grau de risco que a pessoa está, para se conseguir dar o devido atendimento/encaminhamento para sua situação. O PsyStart é um instrumento de avaliação de saúde mental simples, que permite o encaminhamento rápido de indivíduos com risco potencial de sofrimento psicológico, quando necessário. Não fornece um diagnóstico, mas identifica as principais dimensões para possíveis cuidados (Sylwanowicz et al., 2018).
Uma parte do trabalho com pessoas em situações de extremos estresse, após os primeiros passos de intervenção em crise, é auxiliá-las a se reorganizarem emocionalmente. Por um lado, é perfeitamente compreensível haver sinais e sintomas de extremos estresse, por outro é importante ajudá-las a aprender a manejar seus pensamentos e emoções, no intuito de conseguirem fazer pequenas e boas escolhas de comportamentos para o momento vivido. Podemos denominar como competências emocionais, as quais se referem à capacidade do indivíduo em reconhecer, usar e regular as suas emoções, de forma eficiente e produtiva, possibilitando uma interação eficaz com o meio e a resolução competente das situações. A gestão das emoções permite a adoção de estratégias de ação e adaptação face às contrariedades da vida. A incapacidade de sentir ou manifestar cada uma das emoções básicas conduz a que o individuo tenha dificuldade em desenvolver empatia pelos outros, a agir sem controle e por impulso, sem considerar as consequências dos seus atos, o que pode comprometer a qualidade das suas relações intrapessoais e interpessoais (Sylwanowicz et al., 2018).
No auxílio destas questões propomos um trabalho com base Terapias Comportamentais Contextuais por meio do conceito de Flexibilidade Psicológica da ACT, o qual se refere a processos específicos de aceitação da experiência e mudança do comportamento (Hayes, Strosahl e Wilson, 2003). Este é um conceito chave: habilidade de ser/estar no presente momento com completa consciência e abertura à experiência, e de agir guiado pelos próprios valores. Desta forma, a pessoa pode conseguir responder de modo mais eficaz aos problemas, estresses e desafios que a vida inevitavelmente traz. Ela amplia o contexto de interesse para incluir a experiência interior, tanto aversiva (sofrimento) quanto apetitiva (valores), e coloca como foco a capacidade de gerar mudança, pois ajuda a classificar o comportamento em termos de sua eficácia em movimento e em direção ao que é importante. Há uma escala que mede a Flexibilidade Psicológica (AAQ II), a qual apresenta evidências de validade de construto, convergente e divergente satisfatórias, além disso, está positivamente correlacionada a construtos semelhantes, como resiliência e saúde geral, e negativamente relacionada a construtos distintos, como ansiedade e depressão. Em estudo para sua validação no Brasil o Alpha de Crombach foi de 0,87 (Barbosa & Murta, 2013).
Sendo assim, este projeto propõe um trabalho de intervenção para pessoas que vivenciaram a situação da catástrofe no Rio Grande do Sul, iniciando pela avaliação dos aspectos emocionais citados acima e propondo um curso psicoeducativo que inicia pela perspectiva de atenção à crise (PsyStart) e após, incluir os passos propostos pelo trabalho organizado pela OMS, sendo um protocolo denominado ACT na Sociedade. Refere-se ao manejo de estresse em situações adversas. Este material, originalmente desenvolvido por Russ Harris, foi traduzido para o português por Maria Heleneide Carlos Maia, Michaele Saban e equipe. Foi adaptado para a realidade das inundações no RS pelas participantes do CEFI Contextus: Mariana Dilemburg, Ana Paula Domeneghini e Mara Lins.
Este trabalho é totalmente voluntário e será realizado em três etapas:
- Avaliação do momento psíquico de cada pessoa, por meio de instrumentos que auxiliam na observação de um possível desenvolvimento de problemas emocionais e devidos encaminhamentos;
- Curso de treinamento de habilidades para lidar com o estresse diante de catástrofes, em 6 encontros consecutivos, no intuito de auxiliar as pessoas a manejarem, da melhor forma possível, o momento em que estão vivendo e conseguirem estrutura emocional para construírem bons caminhos nesta etapa de reconstrução da vida;
- Após o curso, se a pessoa desejar, poderá ser encaminhada para um atendimento individualizado, também realizado de forma voluntária, num espaço mais privado para lidar com suas questões individuais.
Se você quiser participar somente acessar o link abaixo e responder. Nosso objetivo é duplo:
1) Auxiliar diretamente pessoas que vivenciaram perdas nas inundações;
2) Qualificar profissionais da saúde e voluntários na linha de frente para ajudarem a população afetada.
Inscreva-se aqui:
https://docs.google.com/forms/d/1vGNhBSoQOi_TuMx-yP_kIhnSS84ayEDqPF4Ww6Rp0NY/edit
Para maiores informações, após o preenchimento do formulário assim, pode ser realizado um contato via WhatsApp 51991231949
No desejo de auxiliar mais pessoas a encontrarem um caminho valioso no enfrentamento das dificuldades vividas, estamos com e para quem precisar.
Referências:
Department of Veterans Affairs dos Estados Unidos (2024). Folhetos del manual de primeros auxilios psicológicos. Encontrado em: https://www.ptsd.va.gov/
Hayes, S. Strosahl, K. Wilson, K. (2003) Acceptance and Commitment Therapy An Experiential Approach to Behavior Change. New York: The Guilford Press.
OMS (2023). Em tempos de estresse faça o que importa: Um guia ilustrado / [adaptado para a realidade Brasileira e traduzido por Maria Heleneide Carlos Maia e Michaele Terena Saban-Bernauer; Revisão da língua portuguesa por Jonas Filho]. – São Leopoldo: Faculdades EST, 2023. Formato PDF. Requisito do Sistema: Adobe Acrobat Reader. IBN 978-65-88074-49-7
Sylwanowicz, L.; Schreiber, M.; Anderson, C.; Gundran, C.; Santamaria, E.; Lopez, J.; Lam, H.; Tuazon, A. (2018). Rapid Triage of Mental Risk in Emergency Medical Workers: Findings from Typhoon Haiyan. Disaster Medicine and Public Health Preparedness, v.12, n.1. 2018.
World Health Organization & World Bank. (2011). World report on disability 2011. World Health Organization. Encontrado em: https://iris.who.int/handle/10665/44575
Este texto é de autoria do membro da equipe CEFI Contextus – Mara Lins