Faculdade do Cefi

Temas Atuais

Por que damos as mãos? A importância de um relacionamento amoroso como fator protetor para a vida.

O trabalho do Dr. James Coan (professor de Psicologia Clínica e Diretor do Virginia Affective Neuroscience Laboratory da Universidade de Virginia/USA) enfatiza a importância da neurociência da emoção e das relações sociais, por meio de estudos sobre a evolução do cérebro humano.

Como psicólogo clínico, ele trabalhava com veteranos de guerra com traumas e recebeu para atendimento um senhor que lutou na Segunda Guerra mundial. Este senhor se mostrava rabugento, não acreditava na terapia e o senhor pediu para a esposa participar da sua terapia. O terapeuta passou a tratá-la como uma observadora da sessão, como se ela estivesse ali vendo TV.

O terapeuta pediu para ele falar do trauma, sobre o que viveu na guerra e ele disse: não. O terapeuta não sabia o que fazer. Tentou uma técnica de relaxamento muscular progressivo para ajudar a diminuir a tensão. Ele se recusou a fazer. A esposa passou a segurar a mão dele e soltar e ficaram fazendo juntos este movimento. Tempos depois o terapeuta pediu para falar e ele disse: não. A esposa somente segurou na sua mão e ele começou a falar e, assim, o processo terapêutico ocorreu.

Depois desta experiência Dr. Coan fez um novo estudo: avaliar a função cerebral com casais. Ele preparou uma situação emocional intensa em que a pessoa ficava dentro do tubo de escaneamento cerebral, com o estresse do equipamento, luzes, recebia uma ameaça de levar um choque (só ameaça). Então os pesquisadores comparavam o funcionamento neural quando esta pessoa estava só, quando dava a mão para um estranho e quando dava a mão para seu(sua) parceiro(a).

Os cientistas observaram que a situação de estresse já baixava um pouco a ativação cerebral quando a pessoa segurava na mão do estranho, como se o cérebro dissesse: não preciso mais fugir do perigo. Já segurar a mão do parceiro(a) diminuiu massivamente a ativação cerebral, principalmente no córtex pré-frontal, que é o local que regula as emoções. As pessoas diziam que estavam se sentindo menos ameaçadas ao segurar a mão do parceiro(a), sem precisar exercitar as regiões do cérebro que geralmente as pessoas autorregulam quando há necessidade.

Observaram também uma diminuição da ativação do hipotálamo, responsável pela liberação de hormônios de estresse na corrente sanguínea, os quais podem ter efeito deletério na função imunológica, principalmente se for por longos períodos. Já se sabe que quanto mais socialmente isolado uma pessoa é, mais fica exposta a situações de morte a qualquer momento em qualquer situação. Simplesmente segurar a mão é proteção.

Mas o que acontece com este tipo de suporte? Fizeram um novo estudo, agora com as pessoas recebendo pequenos choques, avaliando o cérebro nas situações de choque na própria pessoa, choque num estranho e choque no parceiro(a). Viram que o cérebro ficava igual quando era em si e no parceiro(a), não se podia diferenciar. E esta situação não era só em regiões do cérebro que ativam o sistema de alerta/perigo. Observaram que havia uma representação neural do self, incluído partes de mapeamento do estado do corpo físico. E mais, o que acontece com a familiaridade é que quando uma pessoa é familiar, ela também é mapeada no self da outra, ou seja, outras pessoas são absorvidas pelo cérebro a medida em que se tornam familiares e confiáveis.

Então por que damos as mãos? Num nível superficial por diversas razões: ficar juntinho, aproximar-se, evitar que o outro não corra na rua. Mas num nível mais profundo, num nível cerebral, de tempo evolutivo mais profundo, damos as mãos para enviar um sinal para o cérebro um do outro e este sinal é algo assim: “Eu estou aqui com você”. Com a nossa evolução e nível de interdependência, esse sinal cresce em força e gradualmente se transforma em algo maior: “eu sou você, você é eu e nós estamos aqui”. No exemplo acima, o senhor só conseguiu fazer o trabalho emocional doloroso porque sua esposa lhe deu atenção, sua própria força e seu compromisso com ele. Foi isso que permitiu a recuperação emocional dele. À medida que nos desenvolvemos para nos tornar uma unidade maior do que “eu” ou “você”, terceirizamos o processamento neural para os cérebros uns dos outros e nossos cérebros se unem nesse sentido e começamos a processar informações uns para os outros… somos mais que um… biologicamente comprovada a importância de uma relação de afeto… biologicamente comprovada a importância de formar um relacionamento amoroso que transmita a segurança de seguir juntos na vida…

 

Texto escrito pela integrante do Núcleo Contextus, Mara Lins.