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O Estigma do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)

Aproveitando que estamos em Maio e este é o mês da conscientização do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) venho aqui chamar a sua atenção para essa condição tão complexa e desafiadora, tanto para quem a vivencia, quanto para os familiares e profissionais de saúde mental.

O TPB é caracterizado pela desregulação emocional, explicada a partir da Teoria Bissocial desenvolvida por Marsha Linehan e apresentada na Terapia Comportamental Dialética (DBT). A Teoria Biossocial informa que a desregulação emocional se dá pela soma da vulnerabilidade emocional (sensibilidade maior aos estímulos, maior intensidade emocional e lento retorno à calma) e de ambientes sociais invalidantes (o ambiente comunica que a pessoa está equivocada com a descrição e análise de suas experiências e emoções). Gerando instabilidade emocional, impulsividade, medo intenso de abandono e relacionamentos interpessoais difíceis. Além de tudo isso, o TPB ainda é envolto em estigmas que dificultam o diagnóstico, o tratamento e a convivência social das pessoas que o enfrentam.

O estigma em torno do TPB é particularmente intenso. Diferente de outros transtornos mentais mais amplamente compreendidos ou aceitos, como a depressão ou a ansiedade, o Borderline muitas vezes é mal interpretado. Pessoas com esse diagnóstico são frequentemente rotuladas como “manipuladoras”, “difíceis” ou “perigosas”, o que reforça a exclusão e o preconceito. Esses rótulos não só desumanizam, como também desconsideram o sofrimento genuíno e a luta diária dessas pessoas para lidar com suas emoções.

Além disso, esse estigma pode impactar negativamente a qualidade do atendimento psicológico e psiquiátrico oferecido. Essa exclusão institucionalizada aprofunda o sentimento de abandono e intensifica os sintomas do transtorno, criando um ciclo vicioso difícil de romper.

Na sociedade em geral, o desconhecimento sobre o TPB gera medo, julgamentos e isolamento social. Relações afetivas e familiares podem ser abaladas não pelo transtorno em si, mas pela incompreensão e pela falta de suporte. O estigma não é apenas um obstáculo externo; ele também é internalizado. Pessoas com TPB muitas vezes sentem vergonha ou culpa por sua condição, acreditando que são “demais” ou “irrecuperáveis”, o que afeta sua autoestima e sua motivação para buscar ajuda.

Romper com o estigma do Transtorno Borderline exige psicoeducação, empatia e disposição para ouvir histórias reais sem preconceitos. É fundamental lembrar que o TPB é tratável, especialmente com abordagens como a Terapia Comportamental Dialética (DBT), e que pessoas com esse diagnóstico podem ter vidas significativas, relacionamentos saudáveis e trajetórias de superação.

Mais do que um rótulo, o Borderline é um pedido silencioso por compreensão. E todo pedido por compreensão merece ser acolhido com humanidade.

A Terapia Comportamental Dialética (DBT) não apenas ajuda a tratar os sintomas do transtorno de personalidade borderline (TPB), mas também oferece ferramentas poderosas para enfrentar o estigma — tanto o estigma externo (social e institucional) quanto o internalizado (vergonha, culpa e autocrítica).

Aqui estão algumas formas pelas quais a DBT pode ajudar a lidar com o estigma associado ao TPB:

  1. Validação emocional: combatendo a vergonha

A DBT ensina que todas as emoções têm uma razão de existir e são válidas no contexto da história de vida de cada pessoa. Isso ajuda os pacientes a compreenderem que seu sofrimento não é sinal de fraqueza ou defeito moral.

  1. Mindfulness: separando o eu do rótulo

O treino em atenção plena (mindfulness) permite que a pessoa observe seus pensamentos e emoções sem julgamento. Isso a ajuda a perceber que ela não é o transtorno, nem os estigmas que lhe foram atribuídos. A prática da consciência plena enfraquece a identificação com rótulos negativos e constrói uma base de autocompaixão.

  1. Efetividade interpessoal: enfrentando o preconceito com assertividade

O módulo de habilidades de efetividade interpessoal ensina a se comunicar de forma clara, firme e respeitosa. Isso capacita a pessoa a lidar com situações em que sofre discriminação ou julgamento, expressando suas necessidades e limites sem agressividade ou submissão.

  1. Regulação emocional: reduzindo comportamentos que reforçam o estigma

Muitos dos comportamentos impulsivos associados ao TPB são reações intensas ao sofrimento emocional. A DBT ensina estratégias para regular essas emoções sem recorrer a explosões, automutilação ou isolamento — comportamentos que, infelizmente, reforçam estereótipos negativos. Ao conquistar maior estabilidade, a pessoa pode mostrar uma nova narrativa sobre o TPB, desafiando o estigma na prática.

  1. Tolerância ao mal-estar: enfrentando julgamentos sem se destruir

Essa habilidade ajuda a lidar com situações difíceis, gatilhos para crises — como críticas ou rejeições — de forma construtiva, sem aumentar o sofrimento, com impactos na fisiologia e nos impulsos. A tolerância ao mal-estar é essencial para resistir à pressão social do estigma sem recorrer a mecanismos destrutivos de defesa.

  1. Criação de uma vida com sentido: superando o estigma pela construção de valor

A DBT não se limita a tratar sintomas. Ela ajuda a pessoa a construir uma vida com propósito e significado, mesmo diante das dificuldades. Isso gera autoestima autêntica e resiliência frente a qualquer estigmatização externa. O paciente deixa de ser definido pela sua dor e passa a se reconhecer por suas escolhas, valores e conquistas.

Em resumo, a DBT oferece uma base sólida para que pessoas com TPB possam não apenas se tratar, mas também reconstruir sua identidade de forma empoderada, resistindo ao estigma com consciência, dignidade e ação.

E qual o papel da família nesse contexto? Buscar informação adequada, realizar o Treinamento de Habilidades da DBT para pais e familiares, exercitar a empatia; evitar rótulos como “dramático” ou “manipulador”, estar presente, sem julgamento e principalmente buscar apoio profissional. Todos precisam de cuidado, atenção, tratamento adequado, baseado em evidências e MUITO AMOR.

Este texto é de autoria do membro da equipe CEFI Contextus - Vanessa Stechow