Não esqueça: O etanol ingerido não mata o vírus. Ele mata você.
Quem curte memes (imagens comédicas que circulam na internet) sabe: o uso de álcool no isolamento social, medida para evitar a disseminação do coronavírus 2019, aparentemente, está liberado. DIstribuidoras observam um aumento de 38% nas vendas. Piadas e fake news dizem até que a nociva substância é protetiva à infecção e melhora a imunidade. Problema a vista!
Para quem trabalha com isso a situação é periclitante. Os desencadeantes se multiplicaram. Os níveis de ansiedade e os problemas domésticos estão potencializados, e os encontros virtuais com amigos, happy hour, se tornaram a única maneira de socializar. Isto em si seria, na verdade, muito positivo, não fosse o conjunto deste hábito com o aumento de consumo de álcool. E este, por sua vez, aumenta as chances de beber sozinho, comportamento que está mais relacionado ao descontrole do uso e piora de sintomas ansiosos e depressivos.
A presença no emprego presencial tem importante papel inibidor no consumo. Com as questões de horário relaxadas, assim como há pessoas trabalhando de pijamas e mesmo abdicando hábitos de higiene pessoal, muitos consumidores de final de semana estão se mostrando etilistas inibidos, que passam a fazer uso diário.
Além dos problemas biológicos, psicológicos e sociais relacionados ao uso descontido da droga etanol, existem agravantes específicos. O álcool prejudica a imunidade e predispõe pessoas sem outros fatores de risco (e agrava os que já os tem) à síndrome do desconforto respiratório, talvez o maior assassino relacionado ao COVID19.
Felizmente, há o AA online, terapeutas, psiquiatras, todos à disposição. Seria uma pena que um período estressor relativamente curto trouxesse, para a vida do indivíduo, um problema que o acompanhará para o resto de sua vida.
Não esqueça: O etanol ingerido não mata o vírus. Ele mata você.
Texto do Psiquatra Emmanuel Kanter da equipe CEFI Integração - Equipe especializada no tramaento da Dependência Química