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Mês do orgulho LGBTQI+: “PANELEIROS”? QUEM SOMOS NÓS E O QUE FAZEMOS? – COMPETÊNCIA CULTURAL PARA A ESPERANÇA E O ORGULHO LGBT João Alves Neto

“PANELEIROS”? QUEM SOMOS NÓS E O QUE FAZEMOS? – COMPETÊNCIA CULTURAL PARA A ESPERANÇA E O ORGULHO LGBT João Alves Neto 

Como grupo e indivíduos, nós LGBT, temos alcançado conquistas em diversas áreas e de várias formas. A revolta de Stonewall, em Nova Iorque, é um dos marcos para o “Dia do Orgulho LGBT”. Protagonistas vem se destacando em diversas áreas, os/as quais fortalecem nossa identidade, nossos direitos e o sucesso pessoal, como na política (Harvey Milk nos Estados Unidos, Camille Cabral e Bertrand Delanoë na França, David Miranda no Brasil, dentre outros(as)), nas artes (Josephine Baker, Daniela Mercury, ...), nas ciências, nos esportes, enfim, na vida, que inclui pessoas públicas e anônimas que buscam direitos e respeito. Porém, para alcançar o status de ESPERANÇA e ORGULHO de sermos quem somos, de forma ampla e relacional, LGBT ou não, é necessário ampliarmos nossos conhecimentos, em relação a si mesmo(a) e aos/às outros(as). Percebermos, todo(as), que somos iguais nas nossas diferenças. Assumirmos que necessitamos de COMPETÊNCIA CULTURAL, uma abordagem que visa a discussão sobre grupos populacionais com diferenças nas suas necessidades, propagando a diminuição dos estigmas e dos preconceitos. Dessa feita, é possível ascender da intolerância, da ignorância e da agressão para a tolerância, o respeito e a competência para consigo mesmo(a) e com as outras pessoas, fortalecendo a CULTURA DA PAZ. 

Para discutir estes aspectos, discorro sobre uma situação. De mãos dadas, eu e meu marido caminhávamos entre os prédios antigos no lindo centro histórico da cidade que moramos. “PANELEIROS”! Uma voz masculina ecoou. O que aparentemente fez com que ele bradasse seu grito de “guerra” foi nossa demonstração de carinho e intimidade. Já sabíamos que “paneleiro” é o equivalente a “viado”, “bicha”, dentre outras dessas palavras “bonitinhas” usadas no Brasil. O local, rodeado de histórias, parecia repetir o som do berro animalesco e desesperado do seu autor. Fiquei imaginando quantas pessoas nessa situação de desespero precisou gritar o que tínhamos acabado de ouvir. É nesse sentido que escrevo esta reflexão. Uma reflexão sobre o desespero do desconhecimento, da ignorância, da insegurança, da dúvida porque, afinal, o que é ser um “Paneleiro”? E o que é ser um desesperado bramindo um grito de descontentamento ou cólera? 

Como é de se esperar, o temo “Paneleiro” vem de panelas, mas o difícil é entender como se transformou em uma expressão pejorativa. Voltando no tempo, já no século XIII, as nádegas possuíam vários sinônimos populares, e um desses era panelas. Como nossa língua mãe é “engraçada”. E aqui em Portugal engraçada não necessariamente é algo cômico, pode ser também alguma coisa bonita, “cheia de graça”. Mas, a “graça” também pode ser trágica, quando refletem o desespero de alguém que se vira contra outras pessoas para agredi-las. Tal expressão, frente a um ato de amor entre pessoas do mesmo sexo, mostra seu DESESPERO, a falta de esperança, e o ORGULHO ferido, próprio e de outros, a autoestima. Desesperança e orgulho ferido associam-se a falta de conhecimento do que ocorre consigo e com o/a outro(a), aspecto importante nas ações LGBTfóbicas, que possuem diversas formas expressivas e demonstram as inconsistências da maturidade de tais indivíduos, suas ignorâncias, inseguranças e dúvidas pessoais e relacionais. 

Neste sentido, utilizo dois conceitos para explicar: o de CLAREZA DE AUTOCONCEITO e o de FUSÃO COGNITIVA. CLAREZA DE AUTOCONCEITO refere-se ao quanto a representação que cada pessoa possui 

de si mesma é mais próxima da realidade, seu grau de nitidez de si mesma. E FUSÃO COGNITIVA é o estado de comprometimento do comportamento devido a um pensamento, ou conjunto deles, que dificultam a regulação do próprio comportamento, com menor sensibilidade às consequências diretas do que o indivíduo faz naquele momento. MENOR CLAREZA DE AUTOCONCEITO e MAIOR FUSÃO COGNITIVA facilita o DESESPERO e compromete o ORGULHO. 

Na reflexão sobre o tema e de desenvolvimento de estudos e pesquisas, nossos direitos e conhecimentos evoluem, porém ainda temos números trágicos, como os altos índices, uma “epidemia”, de violências e mortes no Brasil de pessoas LGBTs. Na Europa, existem diferenças neste aspecto, porém ainda temos uma certa “invisibilidade” que compromete ações na educação e saúde em Portugal, por exemplo, áreas que venho pesquisando. Dessa forma, fica mais difícil desenvolver a CLAREZA DE AUTOCONCEITO e diminuir a FUSÃO COGNITIVA, fatores importantes na COMPETÊNCIA CULTURAL. Portanto, ESPERANÇA e ORGULHO crescem em contextos de maior nitidez de si mesmo(a) e das outras pessoas, e de maior habilidade para lidar com as situações de desconhecimentos e dúvidas para questionamentos de verdades que devem ser relativizadas. Que neste “Dia do Orgulho LGBT” possamos aprimorar nossas COMPETÊNCIAS. 

Abraços MULTICOLOR para tod@s!