Gratidão: o que essa palavra remete a você?
Essa semana, durante uma supervisão de casos com colegas, debatemos o tema da gratidão. Alguns trouxeram um ponto de vista sobre o quanto a expressão gratidão tem sido usada de formas que muitas vezes invalidam o sofrimento e a dor, como por exemplo: “não foca nisso, pensa pelo lado positivo”. A famosa “positividade tóxica”, como é popularmente chamada, que é focar apenas nos pontos positivos e eliminar os pontos negativos das nossas vidas. Do ponto de vista das terapias contextuais, agir dessa forma pode nos acarretar mais sofrimento psicológico porque vamos tentando controlar a nossa experiência para não sentir dor, mas a dor vem naturalmente (é parte da vida) e isso faz com que sintamos que fracassamos.
Porém, meu objetivo com esse texto hoje não é discutir os pontos prejudiciais da positividade tóxica. Eu gostaria de resgatar o sentido da gratidão, pelo meu ponto de vista. Adotar uma postura de gratidão nos ajuda a olhar para os elementos valiosos da nossa experiência, pelos quais somos gratos. Isso não significa anular a nossa dor, apenas incluir mais um ponto de vista nesse cenário. Isso nos possibilita uma visão mais completa, mais flexível de nós mesmos e da nossa experiência.
Vamos tomar de exemplo o seguinte cenário: na segunda feira eu faço uma jornada de trabalho de 10 horas e 30minutos. Naturalmente é um dia que eu me sinto mais cansada, mais irritada no final do dia e mais vulnerável a estressores (principalmente quando ocorrem no período da noite em que o meu cansaço já é maior). Tem muitas segundas-feiras que eu me sinto mais estressada, outras nem tanto e a questão é: nesse momento não tenho como mexer na agenda de trabalho da segunda pois são atividades fixas, então vou seguir vivendo essa realidade. Se eu focar apenas na dor que vem dessa rotina de segunda, o meu humor vai ficar pior, vou sentir o meu dia mais pesado e talvez me sinta mais estressada.
Se eu fizer um exercício de buscar pontos nesse dia pelos quais eu sou grata, isso pode tornar o meu dia um pouco mais leve. Por exemplo: hoje eu sou grata por ter conseguido ir até um café pegar um café passado no meu intervalo, sou grata por ter conseguido correr de manhã antes do trabalho, sou grata por ter preparado todas as minhas refeições no fim de semana e ter uma comida gostosa e de qualidade para comer hoje e sou grata por ter almoçada com duas colegas queridas no trabalho.
Me conectar com essas coisas pelas quais eu sou grata não elimina o cansaço desse dia. Inclusive, estou escrevendo esse texto na segunda de noite, então estou bem conectada com a dor desse cansaço. Isso não vai embora e não é esse o objetivo. Apenas ampliar essa visão: você vê a dor, ótimo, o que mais você vê? No que você foca mais: nas faltas da sua vida ou nas presenças? Na falta de não ter uma rotina de trabalho mais tranquila na segunda feira ou na presença de poder ter vivências valiosas mesmo num dia mais pesado de trabalho. Não há problema olhar para as faltas, muitas vezes as faltas nos sinalizam coisas importantes para nós e que queremos alcançar. Nos lembra de objetivos importantes, de para onde queremos ir. Mas como é a vida se só focamos nas faltas?
Como eu falei no início do texto, meu objetivo aqui foi trazer o meu ponto de vista e você pode ficar à vontade para concordar ou discordar. Se essa visão fez sentindo para você, ou se você ficou curioso para experimentar isso, eu convido você a fazer um breve exercício de pensar todos os dias: pelo o que eu sou grato hoje? Não precisam ser agradecimentos grandiosos, podem ser uma sutileza do dia que foi boa para você. Se quiser compartilhar a sua experiência nos comentários, vou adorar ler. Até a próxima!
Este texto é de autoria da integrante da equipe CEFI Contextus – Mariana Sanseverino Dillenburg