Aplicação da IBCT no Contexto do Câncer

A Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT) propõe uma abordagem que trabalha aceitação e mudança. Quando se trata de lidar com conflitos e desafios, especialmente em contextos complexos como o enfrentamento do câncer, a ênfase recai sobre a aceitação mútua – um processo que pode transformar a maneira como os casais se relacionam em momentos de alta vulnerabilidade. A IBCT atua proporcionando um espaço seguro onde o casal pode aprender a se comunicar melhor, aceitar as dificuldades e trabalhar junto para enfrentar os desafios impostos pela doença. Ao adotar estratégias de aceitação, a IBCT propicia um ambiente no qual os casais podem reconhecer suas limitações, validar as emoções um do outro e reestruturar a forma como interpretam e lidam com os conflitos.
As duas estratégias de aceitação fundamentais são a União Empática e o Distanciamento Unificado. Ambas ajudam os casais a navegar pelas reações emocionais intensas, especialmente quando um dos parceiros enfrenta um desafio de saúde como o câncer.
A União Empática envolve um processo de aproximação emocional no qual cada parceiro se esforça para compreender profundamente as experiências, sentimentos e perspectivas do outro. Esse processo tem alguns aspectos centrais:
- Validação dos Sentimentos: O parceiro que pratica a união empática busca reconhecer e validar as emoções do outro, mesmo que elas sejam dolorosas ou difíceis de compreender. Esse reconhecimento ajuda a reduzir a sensação de isolamento e culpa.
- Compartilhamento Autêntico: A estratégia incentiva a comunicação aberta, pela qual os parceiros compartilham vulnerabilidades e medos sem a necessidade de “consertar” ou mudar o outro. Essa abertura contribui para o fortalecimento do vínculo afetivo.
- Aprofundamento da Conexão: Ao se colocar no lugar do outro, o casal constrói uma base de empatia e suporte mútuo. Essa conexão emocional pode ser especialmente valiosa quando os desafios do tratamento do câncer exigem uma união mais forte para enfrentar as incertezas e a ansiedade.
O Distanciamento Unificado é uma estratégia que ajuda os casais a ganharem perspectiva sobre os conflitos e desafios emocionais. Em vez de se envolverem de forma reativa e intensa, os parceiros aprendem a “se distanciar” para ver a situação de maneira mais objetiva. Os pontos chave dessa abordagem incluem:
- Criação de Espaço Emocional: permite que os parceiros criem um espaço seguro para processar suas emoções sem se deixar consumir pelo estresse. Esse espaço facilita a autorregulação emocional e evita respostas automáticas ou prejudiciais.
- Observação sem Julgamento: ao adotar uma postura de observador, cada parceiro pode identificar padrões de comportamento e reações intensas sem se identificar completamente com eles. Essa visão mais objetiva ajuda a reduzir a escalada dos conflitos.
- Integração da Perspectiva Comum: Apesar do distanciamento, o casal trabalha para manter uma visão compartilhada do problema, reforçando que ambos estão do mesmo lado, enfrentando desafios conjuntamente. Esse equilíbrio entre a distância emocional e a união fortalece a capacidade de lidar com situações difíceis, como a crise imposta pelo câncer.
Essa combinação de estratégias permite que o casal mantenha um equilíbrio: por um lado, uma conexão emocional profunda e solidária; por outro, a capacidade de se distanciar o suficiente para não se perder em reações automáticas e negativas. Essa metodologia possibilita que os casais não só enfrentem os desafios do câncer com mais resiliência, mas também transformem o estresse em uma oportunidade para reforçar o vínculo e desenvolver uma compreensão mais profunda de si mesmos e do parceiro.
Por fim, outro aspecto essencial a ser explorado é a consciência de finitude diante do diagnóstico de câncer, mesmo que a pessoa consiga se recuperar, ao se deparar com uma possibilidade de morte, há a oportunidade de repensar a vida. Por meio da aceitação da doença, da atenção plena ao momento presente de vida e de estratégias de mudança voltadas ao tratamento e escolhas importantes para a vida, o casal pode se voltar ao que realmente é importante: o amor por si, pelo parceiro e por outras relações significativas. As conexões salvam vidas.
Este texto é de autoria do membro da equipe CEFI Contextus - Mara Lins