EXPECTATIVAS DE UMA MÃE-PSI (PSI -MÃE?): PROCESSO OU RESULTADO
No texto de hoje eu gostaria de trazer um pouco das minhas experiências e inquietações em relação à maternidade e às interações família-escola na educação infantil, para então discutir brevemente do ponto de vista das Terapias Comportamentais Contextuais.
O que importa para cada família na educação infantil? A mim, como mãe, importa que minha pequena se sinta segura emocional e afetivamente, se sinta respeitada e querida no ambiente escolar. Que este seja um espaço de aprendizagem e exploração de materiais e atividades. De construção de vínculos e diversão, que possibilite a aprendizagem de limites e de respeito por cada um e pelo grupo. Um espaço para seu desenvolvimento como ser humano nos mais diversos âmbitos, social, emocional, cognitivo, motor… Que seja de muitas experiências! De brincar, dançar, pular, cantar, desenhar, colorir, descobrir brincando, aprender jogando… que seja um espaço lúdico, em que o aprendizado “formal” seja transversal ao brincar, não o fim em si mesmo.
Não tenho expectativas por apresentações prontas e ensaiadas a cada data comemorativa. Não espero performance. Tenho até certo “arrepio” desta expectativa de performance ou de resultado na infância. Desejo, sim, que tanto os professores quanto as crianças estejam vivendo experiências que os ensinem a ser pessoas melhores, conscientes das suas próprias necessidades e das do outro, dos seus limites e dos do outro. Que possam encontrar um equilíbrio entre a “ordem” e a rotina – que são, sem dúvidas, organizadoras – e a livre expressão nas suas diferentes formas.
Deixe-me dar um exemplo: no dia das mães da escola, ao entrarmos na sala das crianças, tocava uma música mimosa e elas todas seguravam flores. Das 6 crianças que ali estavam, apenas uma sorria e tentava fazer a coreografia treinada. A minha pequena e as 4 demais, estavam mais “tímidas”. Eu estava radiante olhando a Júlia, ao mesmo tempo em que experimentava uma vontade de interagir com ela naquele momento. Para minha alegria, o segundo momento do dia das mães foi uma vivência em que cada dupla de mãe e filho recebia uma tela em branco para pintar junto e buscar representar a relação. Nós brincamos juntas, tivemos uma experiência na escola.
A experiência de estar com ela fazendo algo juntas no ambiente escolar, que é a segunda casa da minha pequena jóia, foi muito gostosa. As professoras, muito queridas, referindo-se ao momento da música diziam “o ensaio estava tão bonitinho!” ao que eu escutava a frustração ou a vergonha de: “puxa vida, não entregamos a performance ou o resultado que as famílias (?) / a sociedade ou nós esperávamos”. Está tudo bem, profes!
Faço aqui um apelo por uma infância de experiência. Vamos ter a vida toda para buscar resultados, para melhorar as performances. Não me entendam mal, as crianças precisam, sim, se desenvolver. Precisam, sim, de ordem. Que possam também dançar as músicas de São João que fazem seus pezinhos se balançarem voluntariamente, aquelas que fazem o corpo querer se mexer, do jeito que for, sem precisar se encaixar na roda e no formato que as outras crianças estão se movimentando. Dançar/brincar/pintar/se apresentar, se for o caso, para experienciar, não para performar. Faz sentido?
Que nós, como adultos, sejamos do ambiente escolar ou familiar – pois entendo que somos uma comunidade engajada em cuidar da infância e do futuro dos pequenos e do mundo – possamos estar mais atentos aos processos sutis… ao desfrutar de cada momento, às peculiaridades de cada criança e de cada educador… que este caminhar seja gostoso. Minha carta aberta aos educadores infantis:
Queridos profes, estamos juntos! Somos uma comunidade! Nós pais não somos “os clientes” que devem ser agradados. Somos, família e escola uma equipe em prol de um mundo melhor. Desejo que vocês se divirtam no processo! Que sejam felizes com nossos filhos e com o trabalho que realizam! Que encontrem significado em cada atividade! Não se preocupem em nos “entregar” desenhos certinhos ou esteticamente bonitos, entreguem-nos filhos felizes e realizados com as experiências e as criações pré-escolares. Muito obrigada. Com amor, “mãe da Júlia”
Fala-se em “transformação de função” (do estímulo) nas Terapias Comportamentais Contextuais, que tem a ver com o “para que fazemos” o que fazemos. Posso propor um desenho para as crianças para ter algo esteticamente bonito para mostrar aos pais ou posso propor este desenho para que as crianças encontrem seu jeito de pintar e se divertir. Notam a diferença?
Este texto é de autoria do membro da equipe CEFI Contextus - Martha Wallig Brusius Ludwig